FATORES DE RISCO CARDIOVASCULARES
De acordo com dados de 2015 do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares, apesar de se continuar a verificar uma tendência decrescente na taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares (DCV), estas permanecem como a principal causa de morte em Portugal, constituindo 29,5% da taxa de mortalidade total (1).
O nível elevado de colesterol LDL (LDL-C, apelidado de “mau colesterol”) é um dos principais fatores de risco modificáveis associados ao desenvolvimento de DCV (2,3). Um estudo de 2015 revelou uma prevalência de 52% para o colesterol total igual ou superior a 190 mg/dl, e de 55% para o colesterol LDL igual ou superior a 115 mg/dl (3).
Relativamente à hipertensão arterial (HTA), os dados obtidos das Administrações Regionais de Saúde apontam para uma prevalência total na população portuguesa de 35,6%. A prevalência da hipercolesterolemia (colesterol total superior a 200 mg/dl) em doentes com HTA foi de 48,7% e de 47,7% para homens e mulheres, respetivamente, realçando a importância da associação dos fatores de risco e a relevância da avaliação do risco cardiovascular total (1).
A IMPORTÂNCIA DA DIETA MEDITERRÂNICA NA REDUÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR
A dieta mediterrânica (DM) é identificada como o padrão alimentar tradicional de algumas regiões de olivais situadas perto do mar Mediterrâneo, em que uma das suas características principais é o consumo relativamente elevado de gorduras (mais de 40% do total energético), constituídas maioritariamente por ácidos gordos insaturados, providenciados principalmente pela ingestão de azeite virgem (4).
Para além dos ácidos gordos insaturados, os principais nutrientes providenciados por esta dieta são a vitamina E, a vitamina C e os carotenóides, todos estes associados a menores níveis de inflamação, comparativamente aos ácidos gordos saturados, e com benefícios na saúde cardiovascular (5).
Estudos clínicos permitiram concluir que seguindo a dieta mediterrânica sem restrições calóricas nem exercício físico adicional, e suplementada com azeite virgem ou frutos secos, existe uma redução do risco absoluto de 3 acontecimentos cardiovaculares (acidente vascular cerebral, enfarte do miocárdio e morte CV) (6).
Relativamente ao efeito a longo-prazo da DM, num estudo de 2017 verificou-se que esta poderá atrasar o processo da aterosclerose. Assim, a adesão a longo-prazo à DM constitui uma boa ferramenta na prevenção primária e secundária da doença cardiovascular (5).
INGREDIENTES COM EFEITO BENÉFICO CARDIOVASCULAR
O hidroxitirosol (HT) é um polifenol que pode ser absorvido a partir do consumo de azeite, onde se encontra abundantemente presente (4,7). Este polifenol é um potente antioxidante e sequestrador de radicais livres (4,8,9). Um painel de especialistas da European Food Safety Authority (EFSA) concluiu que um consumo diário de 5 mg de HT e dos seus derivados tem benefícios efetivos na proteção da oxidação das partículas de LDL, constituindo um passo importante na prevenção da formação da placa de ateroma.(10)
Para obter o efeito benéfico dos 5 mg de hidroxitirosol, mesmo considerando o azeite extra virgem, o mais rico em HT, seria necessário consumir 390 ml de azeite por dia, o que equivale a ingerir 3100 calorias por dia.
Os ácidos gordos ómega-3, encontrados abundantemente no óleo de peixe, exercem efeitos anti-inflamatórios. A suplementação com ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA) – componentes do ómega 3 - poderá exercer um efeito protetor do coração (11). No que diz respeito à prevenção de DCV, foi demonstrado que o consumo de 250 a 500 mg de EPA e DHA diminui o risco CV (12).
Referências:
1. Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares. Portugal Doenças Cérebro-Cardiovasculares em Números 2015. Direção-Geral da Saúde (DGS). Fevereiro 2016. 2. Mitchell S, Roso S, Samuel M & Pladevall-Vila M. Unmet need in the hyperlipidaemia population with high risk of cardio- vascular disease: a targeted literature review of observational studies. BMC Cardiovascular Disorders 2016; 16:74. 3. Mariano C, Antunes M, Rato Q, et al. e_LIPID: caraterização do perfil lipídico da população portuguesa. Boletim Epidemiológico Observações 2015; 4:7-10. 4. Urpi-Sarda M, Casas R, Chiva-Blanch G, et al. Virgin olive oil and nuts as key foods of the Mediterranean diet effects on inflammatory biomarkers related to atherosclerosis. Pharmacological Research 2012; 65:577–83. 5. Casas R, Urpi-Sardà M, Sacanella E, et al. Anti-Inflammatory Effects of the Mediterranean diet in the early and late stages of atheroma plaque development. HYPERLINK “https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28484308”Mediators Inflamm.2017; 2017:3674390. 6. Estruch R, Ros E, Salas-Salvadó J, et al. Primary prevention of cardiovascular disease with a Mediterranean diet. N Engl J Med 2013; 368:1279-90.
7. Covas, MI. Olive oil and the cardiovascular system. HYPERLINK “https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17321749”Pharmacol Res. 2007 Mar;55:175-86. 8. Carluccio MA, Siculella L, Ancora MA, et al. Olive oil and red wine antioxidant polyphenols inhibit endothelial activation antiatherogenic properties of Mediterranean diet phytochemicals. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2003; 23:622-29.9. Richard N, Arnold S, Hoeller U, et al. Hydroxytyrosol is the major anti-Inflammatory compound in aqueous olive extracts and impairs cytokine and chemokine production in macrophages. Planta Med 2011; 77: 1890–7. 10. European Food Safety Authority Panel on Dietetic Products, Nutrition and Allergies (NDA). Scientific Opinion on the substantiation of health claims related to polyphenols in olive and protection of LDL particles from oxidative damage (ID 1333, 1638, 1639, 1696, 2865), maintenance of normal blood HDL-cholesterol concentrations (ID 1639), maintenance of normal blood pressure (ID 3781), “anti-inflammatory properties” (ID 1882), “contributes to the upper respiratory tract health” (ID 3468), “can help to maintain a normal function of gastrointestinal tract” (3779), and “contributes to body defences against external agents” (ID 3467) pursuant to Article 13(1) of Regulation (EC) No 1924/20061. EFSA Journal 2011;9(4):2033. 11. Kromhout D, Yasuda S, Geleijnse JM & Shimokawa H. Fish oil and omega-3 fatty acids in cardiovascular disease: do they really work? European Heart Journal 2012; 33, 436–43.12. EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition, and Allergies (NDA). Scientific Opinion on Dietary Reference Values for fats, including saturated fatty acids, polyunsaturated fatty acids, monounsaturated fatty acids, trans fatty acids, and cholesterol. EFSA Journal 2010; 8:1461.
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